quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Crítica: Anticristo (2009)



Entre o ódio e o desejo 

"Não sei se Deus é o melhor Deus do mundo." (Lars Von Trier)


Na brilhante obra artística e cinematográfica "Anticristo", do renomado diretor e roteirista dinamarquês, Lars Von Trier, é possível, sim, fazer um paralelo biunívoco entre o ódio e o desejo.

Paralelo este exposto através da natureza e da morte (“A natureza é a Igreja de Satã”), do bem e do mal, do homem e da mulher, da fé e da descrença, do prazer e da culpa, do gozo e do medo (“Deixe o medo vir se ele quiser”), do amor e da raiva, da doce imaginação (“Lembre-se que se a mente imagina e acredita, podem também alcançar”) e da amarga realidade (“O caos reina”).

O filme

Através dos personagens principais interpretados pela encantadora atriz e cantora francesa, Charlotte Gainsbourg (uma escritora intelectual), e o ator estadunidense, Willem Dafoe (um psicanalista) - o longa conta a história de um casal que, após a morte acidental do filho Nick, de dois anos, torna-se problemático e entra em conflitos constantes.

 Dividido em prólogo, epílogo e em capítulos (Sofrimento/luto, O caos reina, Desespero/ feminicídio, Os 3 mendigos: Dor, Desespero, Sofrimento), "Anticristo" é complexo, excêntrico e atípico mas não menos impactante, através do auxílio de uma belíssima exploração visual e direção fotográfica assinada por Anthony Dod Mantle (O Último Rei da Escócia).

Lançado nacionalmente em 28 de agosto, Anticristo foi descrito por Lars Von Trier como “o filme mais importante de toda a sua carreira” e “como o seu maior desafio”, já que foi produzido no mesmo período em que enfrentava uma grave depressão. Por isso, acabou gerando polêmicas, após o seu primordial lançamento, em Cannes, impactando parte da imprensa presente que saiu antes da sessão terminar, e que também vaiou o longa ao final de sua exibição.

Recursos utilizados

Os inusitados efeitos imagéticos e sonoplásticos são elementos comuns e bem marcantes de Lars Von Trier. Em "Anticristo", a trilha sonora gregoriana, as ventanias, os ruídos tensos e as batidas pesadas, exemplificados nas noites frias e aterrorizantes da floresta e no barulho dos orvalhos caindo no teto da cabana, nos remetem a sensações de dor, melancolia, insegurança, desilusão, desespero e um clima de suspense.

Os tons frios, como o preto, o branco, o cinza e o marrom transmitem uma intemperança excessiva dos personagens em diversos momentos do longa, a exemplo da chocante cena em que a protagonista mutila a sua própria região genital com uma tesoura.

Outras produções do autor

"Ondas do Destino", "Dogville", "Manderlay" e "Dançando no Escuro", assim como "Anticristo", refletem o modo intenso e próprio de criar e recriar de Lars Von Trier, que, aliado ao seu incomparável grau de inventividade, expressam quão realistas, polêmicas, densas e audaciosas são as suas produções.

Aplauso é pouco para “o maior diretor do cinema do mundo”, como ele próprio se define.

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